Petróleo sem povo: Equinor avança no Litoral Norte sem ouvir os caiçaras
Projeto aprovado no auge da pandemia ignora comunidades tradicionais e gera revolta

Você estava isolado em casa em 2021, certo? As comunidades do Litoral Norte também. Mas isso não impediu a autorização, em tempo recorde, de um gigantesco projeto petrolífero na costa brasileira. E o mais grave: sem ouvir quem mais será impactado — os caiçaras.
Esse é o pano de fundo da polêmica revelada pela Repórter Brasil, que mostra como a norueguesa Equinor, operadora do campo de Bacalhau, realizou apenas uma audiência pública virtual para “consultar” pescadores e moradores de regiões como Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela e Caraguatatuba.
A Equinor detém 80% da operação no bloco e a CNPC (estatal chinesa), os outros 20%. O bloco Aram já teve duas descobertas de petróleo, e outras perfurações estão programadas até 2027. Mas os moradores relatam que sequer foram informados — muito menos convidados — para discutir riscos, rotas de navios ou impacto nas correntes marinhas.

Ignorados pelo sistema
“Nunca vieram aqui” virou o grito de protesto dos caiçaras. Eles afirmam que as reuniões online excluíram os mais vulneráveis, que dependem de conexão instável e não têm familiaridade com ambientes digitais. A audiência pública virou, na prática, uma formalidade burocrática. Resultado: uma comunidade inteira foi ignorada em nome do “progresso”.
Com risco de vazamentos, impactos na pesca artesanal e mudanças na cadeia alimentar marinha, o projeto segue avançando. E o debate sobre justiça socioambiental está longe de acabar.
Fonte: Repórter Brasil – Adaptado por Ricardo Severino
Imagem: Divulgação/Repórter Brasil